Periodo Interbíblico - Intertestamentário



Ao lermos o último livro do Antigo Testamento (Malaquias) e iniciarmos a leitura do primeiro livro do Novo Testamento (Mateus), não imaginamos que entre esses dois livros há um período muito importante a ser estudado, porém pouco conhecido e ensinado nas igrejas.

Um período de 400 anos marcado pelo silêncio da era profética e por essa razão apelidado “O Período Negro”.

Esse mesmo período merece total atenção, pois se quisermos compreender melhor o Novo Testamento e as mudanças que ocorreram no mundo entre os anos 397 - 6 a.C. teremos que nos voltar a ele e observar os fatos e acontecimentos ali presentes, além de suas contribuições para o desenvolvimento do cristianismo.

Chamamos esse período de “Período Interbíblico ou Intertestamentário”.

Definição
A palavra intertestamentária significa “entre testamentos”. 
O Período Intertestamentário ou Interbíblico, para uma melhor compreensão, trata-se do período que se estendeu por 400 anos entre livro de Malaquias e o evangelho de Mateus.

Durante esse período a promessa do Messias já havia sido profetizada, porém não concretizada. Agora todos experimentam o silêncio de Deus, não há ninguém inspirado pelo Senhor que fala em seu nome.
Ao observarmos o mundo nesse período, podemos notar transformações significativas quanto as civilizações que se levantavam para exercer seu domínio, sem falar ainda na vida do povo de Deus (os judeus), que aguardavam o advento do Messias com o propósito de restaurar a Israel, que viveram sob o domínio da Pérsia, Grécia e Roma.


Os Apócrifos
A impressão que temos, quanto ao povo escolhido por Deus, é que depois de Malaquias nenhuma obra literária fora produzida até a época dos apóstolos. Essa impressão é equivocada. Concordamos que nenhuma obra inspirada por Deus fora produzida, somente obras de cunho humano visando suprir a escassez da revelação divina com o propósito de consolar o povo e manter a unidade entre eles diante da dispersão desde Nabucodonosor.

Foi no decorrer do Período Interbíblico que a literatura apócrifa surgiu. Esses livros foram incluídos no cânon da Septuaginta e Vulgata Católica Romana e constituem o que hoje chamamos de Apócrifos, que significa “livros ocultos, escondidos” não reconhecidos pelos cristãos como sendo inspirados ou legítimos por Deus.

Temos ainda, em adição aos apócrifos, os escritos judaicos extrabíblicos escritos sob um suposto nome e conhecidos como “Pseudoepigráficos”. Eram obras escritas com os nomes de líderes do passado (Enoque, Baruque, Esdras, etc). [1]

A Expressão “400 Anos de Silêncio”, frequentemente empregada para descrever o período entre os últimos eventos do A.T. e o começo dos acontecimentos do N.T. não é correta nem apropriada. Embora nenhum profeta inspirado se tivesse erguido em Israel durante aquele período, e o A.T. já estivesse completo aos olhos dos judeus, certos acontecimentos ocorreram que deram ao judaísmo posterior sua ideologia própria e, providencialmente, prepararam o caminho para a vinda de Cristo e a proclamação do Seu evangelho.


Desenvolvimento Político
A Supremacia Persa
Por cerca de um século depois da época de Neemias, o império Persa exerceu controle sobre a Judeia. O período foi relativamente tranquilo, pois os persas permitiam aos judeus o livre exercício de suas instituições religiosas. A Judeia era dirigida pelo sumo sacerdotes, que prestavam contas ao governo persa, fato que, ao mesmo tempo, permitiu aos judeus uma boa medida de autonomia e rebaixou o sacerdócio a uma função política. Inveja, intriga e até mesmo assassinato tiveram seu papel nas disputas pela honra de ocupar o sumo sacerdócio. Joanã, filho de Joiada (Ne 12:22), é conhecido por ter assassinado o próprio irmão, Josué, no recinto do templo.

A Pérsia e o Egito envolveram-se em constantes conflitos durante este período, e a Judeia, situada entre os dois impérios, não podia escapar ao envolvimento. Durante o reino de Artaxerxes III muitos judeus engajaram-se numa rebelião contra a Pérsia. Foram deportados para Babilônia e para as margens do mar Cáspio.
Em seguida à derrota dos exércitos persas na Ásia Menor (333 a.C.), Alexandre marchou para a Síria e Palestina. Depois de ferrenha resistência, Tiro foi conquistada e Alexandre deslocou-se pra o sul, em direção ao Egito. Diz a lenda que quando Alexandre se aproximava de Jerusalém o sumo sacerdote Jadua foi ao seu encontro e lhe mostrou as profecias de Daniel, segundo as quais o exército grego seria vitorioso (Dn 8). Essa narrativa não é levada a sério pelos historiadores, mas é fato que Alexandre tratou singularmente bem aos judeus. Ele lhes permitiu observarem suas leis, isentou-os de impostos durante os anos sabáticos e, quando construiu Alexandria no Egito (331 a.C.), estimulou os judeus a se estabelecerem ali e deu-lhes privilégios comparáveis aos seus súditos gregos.

A Judéia sob os Ptolomeus
Depois da morte de Alexandre (323 a.C.), a Judeia, ficou sujeita, por algum tempo a Antígono, um dos generais de Alexandre que controlava parte da Ásia Menor. Subsequentemente, caiu sob o controle de outro general, Ptolomeu I (que havia então dominado o Egito), cognominado Soter, o Libertador, o qual capturou Jerusalém num dia de sábado em 320 a.C. Ptolomeu foi bondoso para com os judeus. Muitos deles se radicaram em Alexandria, que continuou a ser um importante centro da cultura e pensamento judaicos por vários séculos. No governo de Ptolomeu II (Filadelfo) os judeus de Alexandria começaram a traduzir a sua Lei, i.e., o Pentateuco, para o grego. Esta tradução seria posteriormente conhecida como a Septuaginta, a partir da lenda de que seus setenta (mais exatamente 72 – seis de cada tribo) tradutores foram sobrenaturalmente inspirados para produzir uma tradução infalível. Nos subsequentes todo o Antigo Testamento foi incluído na Septuaginta.

Os reis do Sul - os Ptolomeus, sucessores de Ptolomeu Soter, general de Alexandre. 

A Judéia sob os Selêucidas
Depois de aproximadamente um século de vida dos judeus sob o domínio dos Ptolomeus, Antíoco III (o Grande) da Síria conquistou a Síria e a Palestina aos Ptomeus do Egito (198 a.C.). Os governantes sírios eram chamados selêucidas porque seu reino, construído sobre os escombros do império de Alexandre, fora fundado por Seleuco I (Nicator).
Durante os primeiros anos de domínio sírio, os selêucidas permitiram que o sumo sacerdote continuasse a governar os judeus de acordo com suas leis. Todavia, surgiram conflitos entre o partido helenista e os judeus ortodoxo. Antíoco IV (Epifânio) aliou-se ao partido helenista e indicou para o sacerdócio um homem que mudara seu nome de Josué para Jasom e que estimulava o culto a Hércules de Tiro. Jasom, todavia, foi substituído depois de dois anos por uma rebelde chamado Menaém (cujo nome grego era Menelau). Quando partidários de Jasom entraram em luta com os de Menelau, Antíoco marcha contra Jerusalém, saqueou o templo e matou muitos judeus (170 a.C.). As liberdades civis e religiosas foram suspensas, os sacrifícios diários forma proibidos e um altar a Júpiter foi erigido sobre o altar do holocausto. Cópias das Escrituras foram queimadas e os judeus foram forçadas a comer carne de porco, o que era proibido pela Lei. Uma porca foi oferecida sobre ao altar do holocausto para ofender ainda mais a consciência religiosa dos judeus.

Os reis do Norte - os Selêucidas, sucessores de Seleuco I, que governou parte da Ásia Menor e Síria.
Não demorou muito para que os judeus oprimidos encontrassem um líder para sua causa. Quando os emissários de Antíoco chegaram à vila de Modina, cerca de 24 quilômetros a oeste de Jerusalém, esperavam que o velho sacerdote, Matatias, desse bom exemplo perante o seu povo, oferecendo um sacrifício pagão. Ele, porém, além de recusar-se a fazê-lo, matou um judeu apóstata junto ao altar e o oficial sírio que presidia a cerimonia. Matatias fugiu para a região montanhosa da Judeia e, com a ajuda de seus filhos, empreendeu uma luta de guerrilhas contra os sírios. Embora os velho sacerdote não tenha vivido para ver seu povo liberto do jugo sírio, deixou a seus filhos o término da tarefa. Judas, cognominado “o Macabeu”, assumiu a liderança depois da morte do pai. Por volta de 164 a.C. Judas havia reconquistado Jerusalém, purificado o templo e reinstituído os sacrifícios diários. Pouco depois das vitórias de Judas, Antíoco morreu na Pérsia. Entretanto, as lutas entre os Macabeus e os reis selêucidas continuaram por quase vinte anos.
Aristóbulo I foi o primeiro dos governantes Macabeus a assumir o título de “Rei dos Judeus”. Depois de um breve reinado, foi substituído pelo tirânico Alexandre Janeu, que, por sua vez, deixou o reino para sua mãe, Alexandra. O reinado de Alexandra foi relativamente pacífico. Com a sua morte, um filho mais novo, Aristóbulo II, desapossou seu irmão mais velho. A essa altura, Antípater, governador da Iduméia, assumiu o partido de Hircano, e surgiu a ameaça de guerra civil. Consequentemente, Roma entrou em cena e Pompeu marchou sobre a Judeia com as suas legiões, buscando um acerto entre as partes e o melhor interesse de Roma. Aristóbulo II tentou defender Jerusalém do ataque de Pompeu, mas os romanos tomaram a cidade e penetraram até o Santo dos Santos. Pompeu, todavia, não tocou nos tesouros do templo.

Judas o Macabeu - o terceiro filho (Judas, Jônatas e Simão) do sacerdote judeu Matatias (que iniciou a revolta). Lider da revolta dos Macabeus contra o Império Selêucida (167-160 a.C.).Macabeu, vem da palavra do siríaco maqqaba, "martelo". Foi-lhe concedido em reconhecimento a sua bravura em combate.

Roma
Marco Antônio apoiou a causa de Hircano. Depois do assassinato de Júlio Cesar e da morte de Antípater (pai de Herodes), que por vinte anos fora o verdadeiro governante da Judeia, Antígono, o segundo filho de Aristóbulo, tentou apossar-se do trono. Por algum tempo chegou a reina em Jerusalém, mas Herodes, filho de Antípater, regressou de Roma e tornou-se rei dos judeus com apoio de Roma. Seu casamento com Mariamne, neta de Hircano, ofereceu um elo com os governantes Macabeus.
Herodes foi um dos mais cruéis governantes de todos os tempos. Assassinou o venerável Hircano (31 a.C.) e mandou matar sua própria esposa Mariamne e seus dois filhos. No seu leito de morte, ordenou a execução de Antípater, seu filho com outra esposa. Nas Escrituras, Herodes é conhecido como o rei que ordenou a morte dos meninos em Belém por temer o Rival que nascera para ser Rei dos Judeus.


Grupos Religiosos dos Judeus
Quando, seguindo-se à conquista de Alexandre, o helenismo mudou a mentalidade do Oriente Médio, alguns judeus se apegaram ainda mais tenazmente do que antes à fé de seus pais, ao passo que outros se dispuseram a adaptar seu pensamento às novas ideias que emanavam da Grécia. Por fim, o choque entre o helenismo e o judaísmo deu origem a diversas seitas judaicas.

Os Fariseus
Os fariseus eram os descendentes espirituais dos judeus piedosos que haviam lutado contra os helenistas no tempo dos Macabeus. O nome fariseu, “separatista”, foi provavelmente dado a eles por seus inimigos, para indicar que eram não-conformistas. Pode, todavia, ter sido usado com escárnio porque sua severidade os separava de seus compatriotas judeus, tanto quanto de seus vizinhos pagãos. A lealdade à verdade às vezes produz orgulho e ate mesmo hipocrisia, e foram essas perversões do antigo ideal farisaico que Jesus denunciou. Paulo se considerava um membro deste grupo ortodoxo do judaísmo de sua época. (Fp 3:5).

O nome é dado a um grupo de judeus devotos à Torá, surgidos no século II a.C.. Opositores dos saduceus, criam uma Lei Oral, em conjunto com a Lei escrita, e foram os criadores da instituição da sinagoga. Com a destruição de Jerusalém em 70 d.C. e a queda do poder dos saduceus, cresceu sua influência dentro da comunidade judaica e se tornaram os precursores do judaísmo rabínico.
Sua oposição ferrenha ao Cristianismo rendeu-lhes através dos tempos uma figura de fanáticos e hipócritas que apenas manipulam as leis para seu interesse. Esse comportamento deu origem à ofensa “fariseu”, comumente dado às pessoas dentro e fora do Cristianismo, que são julgados como religiosos aparentes.

Em geral, atribui-se o surgimento do farisaísmo ao período correspondente ao cativeiro babilônico (587-536 a.C.)

Ainda, segundo citação de Tognini sobre Josefo, os fariseus criam no livre-arbítrio do homem, na imortalidade da alma, na ressurreição do corpo, na existência de anjos, na direção divina de todas as coisas, nas recompensas e castigos na vida futura, na preservação da alma humana após a morte e na existência de espíritos bons e maus. Contudo, Jesus denunciou severamente este grupo por causa de sua hipocrisia e orgulho.

"Todas as coisas, pois, que vos disserem que observeis, observai-as e fazei-as; mas não procedais em conformidade com as suas obras, porque dizem e não fazem;" Mateus 23:3

Os Saduceus
O partido dos saduceus, provavelmente denominado assim por causa de Sadoc (Zadoque), o sumo sacerdote escolhido por Salomão (I Rs 2:35), negava autoridade à tradição e olhava com suspeita para qualquer revelação posterior à Lei de Moisés. Eles negavam a doutrina da ressurreição, e não criam na existência de anjos ou espíritos (At 23:3). Eram, em sua maioria, gente de posses e posição, e cooperavam de bom grado com os helenistas da época. Ao tempo do N.T. controlavam o sacerdócio e o ritual do templo. A sinagoga, por outro lado, era a cidadela dos fariseus. Os Saduceus compreendem a designação da segunda escola filosófica dos judeus, ao lado dos fariseus.

Também para esta seita ou partido é difícil determinar a origem. Sabemos que existiu nos últimos dois séculos do Segundo Templo, em completa discórdia com os fariseus. Como citamos, o nome parece proceder de Sadoc, hierarca da família sacerdotal dos filhos de Sadoc, que segundo o programa ideal da constituição de Ezequiel devia ser a única família a exercer o sacerdócio na nova Judeia. De modo que, dizer saduceus era como dizer “pertencentes ao partido da estirpe sacerdotal dominante”. Diferiam dos fariseus por não aceitarem a tradição oral. Na realidade, parece que a controvérsia entre eles foi uma continuação dessa hostilidade que havia começado no templo dos macabeus, entre os helenizantes e os ortodoxos. Com efeito, os saduceus, pertencendo à classe dominadora, tendo a miúdo contato com ambientes helenizados, estavam inclinados a algumas modificações ou helenizações. O conflito entre estes dois partidos foi o desastre dos últimos anos da Jerusalém judia.
Suas doutrinas são quase desconhecidas, não havendo ficado nada de seus escritos. A Bíblia afirma que eles não criam na ressurreição, tendo até tentado enlaçar Jesus com uma pergunta ardilosa sobre esse conceito. Com muita probabilidade, ainda que rechaçando a tradição farisaica, possuíram uma doutrina relativa à interpretação e à aplicação da lei bíblica. O único que nos oferece alguns dados sobre suas doutrinas é Flávio Josefo que, por ser fariseu e por haver escrito para o público greco-romano, não é digno de muita confiança.
Parece provável que as divergências entre saduceus e fariseus foram mais que dogmáticas, foram jurídicas e rituais. Com a queda de Jerusalém, a seita dos saduceus extinguiu-se. Ficaram porém suas marcas em todas as tendências anti-rabínicas dos primeiros séculos (d.C.) e da época medieval.

Os saduceus, com o seu repúdio à doutrina da ressurreição e descrença na existência de seres angelicais, podem ser considerados como precursores dessa corrente de interpretação das Escrituras. Pouco se sabe sobre a origem desse partido judaico, mas parece haver adotado uma posição secular-pragmática de interpretação das Escrituras. Ao negarem verdades básicas das Escrituras, os saduceus podem ser considerados, guardadas as devidas proporções, como os modernistas ou liberais da época.

Os Essênios
O essenismo foi uma reação ascética ao externalismo dos fariseus e ao mundanismo dos saduceus. Os essênios se retiravam da sociedade e viviam em ascetismo e celibato. Davam atenção à leitura e estudo das Escrituras, à oração e às lavagens cerimoniais. Suas posses eram comuns e eram conhecidos por sua laboriosidade e piedade. Tanto a guerra quanto a escravidão era contrárias a seus princípios.
O mosteiro em Qumran, próximo às cavernas em que os Manuscrito do Mar Morto foram encontrados, é considerado por muitos estudiosos como um centro essênio de estudo no deserto da Judeia. Os rolos indicam que os membros da comunidade haviam abandonado as influências corruptas das cidades judaicas para prepararem, no deserto, “o caminho do Senhor”. Tinham fé no Messias que viria e consideravam-se o verdadeiro Israel para quem Ele viria.

Os Essênios constituíam um grupo ou seita judaica ascética que teve sua existência por volta de 150 a.C. até 70 d.C. Estavam relacionados com outros grupos religioso-políticos, como os saduceus. O nome essênio provém do termo sírio “Asaya”, e do aramaico Essaya, todos com o significado de médico.

Durante o domínio da Dinastia Hasmonéa, os essênios foram perseguidos. Retiraram-se por isso para o deserto, vivendo em comunidade e em estrito cumprimento da lei mosaica, bem como da dos Profetas. Na Bíblia não há menção sobre eles. Sabemos a seu respeito por Flávio Josefo (historiador oficial judeu) e por Fílon de Alexandria (filósofo judeu). Flávio Josefo relata a divisão dos judeus do Segundo Templo em três grupos principais: Saduceus, Fariseus e Essênios.

Os Essênios eram um grupo de separatistas, a partir do qual alguns membros formaram uma comunidade monástica ascética que se isolou no deserto. Acredita-se que a crise que desencadeou esse isolamento do judaísmo ocorreu quando os príncipes Macabeus no poder, Jonathan e Simão, usurparam o ofício do Sumo Sacerdote, consternando os judeus conservadores. Alguns não podiam tolerar a situação e denunciaram os novos governantes. Josefo refere, na ocasião, a existência de cerca de 4000 membros do grupo, espalhados por aldeias e povoações rurais.

Adotaram uma série de condutas morais que os diferenciavam dos demais judeus:

A comida era sujeita a rígidas regras de purificação;
Aboliam a propriedade privada;
Contrários ao casamento;
Eram vegetarianos;
Tomavam banho antes das refeições;
Vestiam-se sempre de branco.

Não tinham amos nem escravos. A hierarquia estabelecia-se de acordo com graus de pureza espiritual dos irmãos, os sacerdotes que ocupassem o topo da ordem.

Dentre as comunidades, tornou-se conhecida a de Qumran, pelos manuscritos em pergaminhos que levam seu nome, também chamados Pergaminhos do Mar Morto  ou Manuscritos do Mar Morto. Segundo Christian Ginsburg (historiador orientalista), os essênios foram os precursores do Cristianismo, pois a maior parte dos ensinamentos de Jesus, o idealismo ético, a pureza espiritual, remetem ao ideal essênio de vida espiritual. A prática da banhar-se com frequência, segundo alguns historiadores, estaria na origem do ritual cristão do Batismo, que era ministrado por João Batista, às margens do Rio Jordão, próximo a Qumram.

Existe, ainda, a teoria da existência de dois grupos distintos de essênios, que é apresentada na Enciclopedia de la Biblia, que apresenta o grupo essênio de Qumran e outro, talvez, no Egito.

Os Escribas
Os escribas não eram, estritamente falando, uma seita, mas sim, membros de uma profissão. Eram, em primeiro lugar, copista da Lei. Vieram a ser considerados autoridades quanto às Escrituras, e por isso exerciam uma função de ensino. Sua linha de pensamento era semelhante à dos fariseus, com os quais aparecem frequentemente associados no N.T.
O escriba ou escrivão era a pessoa na Antiguidade que dominava a escrita e a usava para, a mando do regente, redigir as normas do povo daquela região ou de uma determinada religião.

Nos livros sagrados para os cristãos e judeus, o termo escriba refere-se aos chamados doutores e mestres (Mt 22:35 e Lc 5:17), ou seja, homens especializados no estudo e na explicação da lei ou Torá. Embora o termo apareça pela primeira vez no livro de Esdras, sabe-se que tinham grande influência e eram muito considerados pelo povo, tendo existido escribas partidários de diferentes correntes, tais como os fariseus (a maioria), saduceus e essênios.
A classe começa a atuar ainda nos tempos do Antigo testamento, em que a figura do profeta perde o seu valor. Já no Novo testamento, é possível verificar que a maioria dos escribas se opõe aos ensinamentos de Jesus (Mc 14:1 e Lc 22:1), que os critica duramente por causa do seu proceder legalista e hipócrita (Mt 23:1-36 / Lc 11:45-52 / 10:46-47), comparando-o ao dos fariseus, a corrente de escribas que representava a maioria.

Após o desaparecimento do templo de Jerusalém no ano 70, seguido do desaparecimento da figura do sacerdócio judaico, sua influência passaria a ser ainda maior.
Alguns escribas ficariam famosos, tais como Hillel e Sammai (pouco antes de Jesus Cristo), tendo sido ambos líderes de tendências opostas na interpretação da lei, liberal o primeiro e rigoroso o segundo.
Gamaliel, discípulo de Hillel, foi mestre de Paulo (At 22:3), tendo existido também outros escribas simpatizantes com os cristãos (At 5:34).

Os Herodianos
Os herodianos criam que os melhores interesses do judaísmo estavam na cooperação com os romanos. Seu nome foi tirado de Herodes, o Grande, que procurou romanizar a Palestina em sua época. Os herodianos eram mais um partido político que uma seita religiosa.
A opressão política romana, simbolizada por Herodes, e as reações religiosas expressas nas reações sectárias dentro do judaísmo pré-cristão forneceram o referencial histórico no qual Jesus veio ao mundo. Frustrações e conflitos prepararam Israel para o advento do Messias de Deus, que veio na “plenitude do tempo” (Gl 4.4).

"Mas, vindo a plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei, para remir os que estavam debaixo da lei, a fim de recebermos a adoção de filhos." Gálatas 4:4-5

Ao extrairmos os ensinos que a história deste grupo nos traz, perceberemos que existem, em todos os períodos de tempo, aqueles que sempre estarão dispostos a sacrificar as convicções em troca do recebimento de benefícios pessoais. Por isso, esse grupo é caracterizado por aqueles que buscam seus próprios interesses em detrimento do próximo, e o completo desapego das verdadeiras convicções e princípios, a começar pelos princípios éticos e Escriturísticos. Para estes, o que mais importa é estar ao lado daquele que lhes proporciona benefícios, pois assim poderão experimentar os resultados trazidos pela influência e status do poder.

Os Samaritanos
Samaritanos: uma miscigenação de judeus e gentios.
Atribui-se a origem dos samaritanos a ocasião quando Sargom tomou Samaria para o cativeiro e tentou desnacionalizá-los misturando-os com os babilônios (IIRs 17:24). Talvez esse tenha sido um dos motivos pelos quais os outros judeus abominavam os samaritanos, considerando-os a escória da sociedade. Além disso, os samaritanos eram acusados pelos judeus de serem oportunistas, procurando ficar do lado dos judeus apenas quando estes estavam em ascensão.

Este grupo era frequentemente ridicularizado e desprezado pelo restante dos judeus. Joachim Jeremias [18], ao citar a obra de Levi VII 2, afirma que “a partir de hoje Siquém será chamada a cidade dos idiotas, porque nós zombamos deles como se zomba de um louco”.

Costumeiramente, os samaritanos adoravam no templo, porém, ao voltar do cativeiro os judeus os proibiram de participar da reconstrução de Jerusalém, e o genro de Sambalate, que era sacerdote, foi expulso dali por Neemias. Por não terem ‘sangue puro’, não possuir religião judaica, por serem acusados de oportunismo, porque o sacerdote (genro de Sambalate) foi expulso do convívio social e por serem proibidos de participar da reconstrução, começaram a se empenhar contra a obra que Neemias estava fazendo. Então, Sambalate construiu um templo rival ao de Jerusalém, no monte Gerizim. Ainda, para piorar a situação, desde a construção deste segundo templo, a situação entre judeus e samaritanos se agravou, e o clima de ódio e desprezo se torna cada vez maior, como nos apresenta o livro apócrifo de Eclesiástico ao afirmar que “há dois povos que minha alma abomina, e o terceiro, que aborreço, nem sequer é um povo: aqueles que vivem no monte Seir, os filisteus, e o povo insensato que habita em Siquém”. Sabendo que este denominado “povo insensato que habita em Siquém” são os samaritanos.

Ainda, os samaritanos mantinham crenças semelhantes à dos saduceus.

Apesar de todas as acusações do judaísmo contra os samaritanos, encontramos diversas passagens bíblicas, neotestamentárias, nos mostrando a pregação do Evangelho para os samaritanos (Lc 17:16; Jo 4; At 1:8; At 8:5,14; At 9:31) e até uma conduta destes que é contraposta à conduta do farisaísmo (Lc 10:25-37).

Ao extrairmos os ensinos que a história deste grupo nos traz, podemos concluir que o verdadeiro evangelho não faz acepção de pessoas, e trata a todos de igual para igual, independente dos erros passados.

Os Zelotes
Zelotes: eram um grupo político do século I que buscava promover uma rebelião contra o Império Romano, com o intuito de libertar Israel pela força e que termina por promover a Primeira Guerra Judaico-Romana (66-70).

Os zelotes são um grupo que se destaca como sendo o mais radical dentro do judaísmo. Foram os principais responsáveis por produzirem os levantes contra Roma, provocando a Guerra judia (66-70 d.C.), culminando na destruição de Jerusalém e do Templo. Os zelotes tornaram-se sinônimos de ‘fervorosos’, e foram os que uniram o fervor religioso com o compromisso social, assim como os sicários.

Este grupo rebelde idealizava a vinda do Messias mediante uma ação revolucionária, que resultaria em sua libertação das mãos opressoras de Roma e do helenismo.

De acordo com Horsley e Hanson o zelo por Deus e pela Lei de Deus não pode ser utilizado como características para se denominar um grupo, pois de certa forma todos os grupos judeus possuíam essa característica. No entanto, o que caracteriza os zelotes não é apenas esse zelo, tão somente, mas a manifestação desse zelo através do desejo de revolução e luta como meio de libertação. Isso é o que o faz diferente de outros grupos.

Ao passo que os zelotes eram fervorosos defensores de uma rebelião, os herodianos se tornam então seus opositores.


... outros Grupos Religiosos
Ainda, outros grupos são encontrados entre os judeus, a exemplo dos sicários e dos publicanos.

Os Sicários eram um subgrupo oriundo dos zelotes, porém, mais radicais. O termo é originário do latim ‘sicarius’ e significa ‘homem da adaga’. Essa expressão só surge algumas décadas após a destruição de Jerusalém no ano 70 d.C., de acordo com Kippenberg, que afirma, ainda, que o termo “foi a denominação dada ao movimento revolucionário rural da Judéia” e já o termo zelotes se referia a “um movimento sacerdotal”, isto é, de cunho mais religioso. Por essa razão, o grupo dos Sicários não será tratado em particular neste artigo, pois são uma subdivisão dos zelotes.

Os Publicanos eram os coletores de impostos nas províncias do Império Romano. De acordo com Buckland, haviam dois tipos de Publicanos: os Publicanos Gerais e os Publicanos Delegados. Os Publicanos Gerais respondiam ao imperador romano e eram responsáveis pelos impostos. Os Publicanos Delegados eram aqueles que eram comissionados pelos Gerais para coletar os impostos nas províncias. Estes eram considerados como “ladrões e gatunos”. Muito embora fossem odiados pelos seus compatriotas, os judeus, Buckland afirma que diferentemente dos fariseus, os Publicanos não eram hipócritas. Como os Publicanos são mais uma “profissão” do que um grupo filosófico-político-religioso ele não será tratado em particular neste artigo.


        Aqui eu Aprendi!

Que este estudo, assim como me proporcionou uma gama extraordinária de conhecimento da história, possa também ter ajudado o caro leitor na soma em seus conhecimentos, e assim, cresçamos na Graça do Senhor.



Adaptado de “From Malachi to Matthew”, de Charles F. Pfeiffer.
TOGNINI, Enéas. O Período Interbíblico: 400 anos de silêncio profético. São Paulo: Hagnos.
Bíblia de Estudo Anotada
VerdadeViva.net - Período Interbíblico 
NAPEC - Nucleo Apologetico de Pesquisas e Ensino Cristão - estudo: Os Grupos Judaicos na época de Cristo - por Robson Fernandes 
[1] por Pr Elder Cunha - site Semeando a "verdadeira" doutrina de Cristo

fonte:http://aquieuaprendi.blogspot.com.br/2014/12/periodo-interbiblico-intertestamentario.html
autor: Pastor Ismael Brito

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