JOVEM RICO EXEGESE (marcos 10:17-21)
Realmente,
é interessante descobrir o sentido verdadeiro dos textos bíblicos, isto
é, através de estudos e meditações descobrir qual a sua mensagem para a
época em que foi escrito e também ver a mensagem para nós hoje. É
necessário este tipo de estudo, pois vemos que sem este estudo já
apareceram muitas interpretações erradas. E para nós, estudantes de
Teologia isso não pode ocorrer. Temos que sempre mostrar o real
significado dos textos bíblicos, e desafiar outros a fazerem isso.
Sendo este o nosso propósito, faremos a exegese de Marcos 10:17-31. E
mostraremos através dos seus passos, os seus significados e histórias
para realmente saber quais as preocupações do autor desse tão
interessante evangelho. A exegese é um trabalho que visa mostrar qual é o
verdadeiro sentido dos textos bíblicos, com isso veremos qual o
significado de Marcos 10:17-31 para o restante do livro. O nosso
objetivo é que, as partes estudadas que vão desde o texto original até a
releitura teológica, nos tragam realmente a verdadeira compreensão
desta perícope que é de extrema importância para o evangelho de Marcos.
v. 17. E quando ele saiu em caminho, alguém correu e ajoelhando-se perguntava-lhe: Bom mestre, que farei a fim de que herde a vida eterna?
18. Jesus lhe disse: Por que falas bom? Ninguém é bom exceto um Deus.
19. Os mandamentos conheces: não mates, não adulteres, não roubes, não testemunhes falsamente, não defraudes, honras o teu pai e a mãe.
20. Ele dizia: mestre, todas essas observei a partir de minha juventude.
21. Jesus olhou-o, amou-o e disse-lhe: Uma coisa te falta. Vai, venda o que tens e dê aos pobres e terás um tesouro no céu. Também venha e siga a mim.
22. Ele , aborrecido com a palavra partiu triste pois tinha muitas propriedades.
23. E olhando ao redor Jesus diz aos seus discípulos: como dificilmente os que tem riquezas entrarem no reino de Deus.
24. Os discípulos estavam atônitos com as palavras com as palavras dele. Jesus novamente diz: Filhos, como é difícil entrar no reino de Deus.
25. Mais fácil é um camelo passar através do buraco da agulha que rico entrar no reino de Deus.
26. Eles estavam muito mais espantados dizendo a si mesmos: também quem pode ser salvo?
27. Olhando para eles, Jesus diz: Para os homens impossível, mas não para Deus, pois para Deus tudo é possível.
28. Começou Pedro a dizer-lhe: eis que temos deixado tudo e temos seguido a ti.
29. Afirmou Jesus: verdadeiramente vos digo, não há ninguém que tendo deixado casa ou irmãos, ou irmãs, ou mãe ou pai ou filhos ou campos por causa de mim e por causa do evangelho,
30. Que não receba cem vezes mais agora neste tempo, casas e irmãos e irmãs e mães e filhos e campos com perseguições, e na era que vem a vida eterna.
31. Pois muitos primeiros serão últimos e os últimos primeiros.
- Cf. LOHSE, 1974: 139-40, relata-nos que, o final secundário de Marcos surgiu já no século II e pressupõe o conhecimento das histórias pascais dos três outros evangelhos. As diferentes complementações mostram que a conclusão do evangelho de Marcos foi sempre um problema. Mas a exposição do evangelho de Marcos termina em 16:8.
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1.1. Tradução
v. 17. E quando ele saiu em caminho, alguém correu e ajoelhando-se perguntava-lhe: Bom mestre, que farei a fim de que herde a vida eterna?
18. Jesus lhe disse: Por que falas bom? Ninguém é bom exceto um Deus.
19. Os mandamentos conheces: não mates, não adulteres, não roubes, não testemunhes falsamente, não defraudes, honras o teu pai e a mãe.
20. Ele dizia: mestre, todas essas observei a partir de minha juventude.
21. Jesus olhou-o, amou-o e disse-lhe: Uma coisa te falta. Vai, venda o que tens e dê aos pobres e terás um tesouro no céu. Também venha e siga a mim.
22. Ele , aborrecido com a palavra partiu triste pois tinha muitas propriedades.
23. E olhando ao redor Jesus diz aos seus discípulos: como dificilmente os que tem riquezas entrarem no reino de Deus.
24. Os discípulos estavam atônitos com as palavras com as palavras dele. Jesus novamente diz: Filhos, como é difícil entrar no reino de Deus.
25. Mais fácil é um camelo passar através do buraco da agulha que rico entrar no reino de Deus.
26. Eles estavam muito mais espantados dizendo a si mesmos: também quem pode ser salvo?
27. Olhando para eles, Jesus diz: Para os homens impossível, mas não para Deus, pois para Deus tudo é possível.
28. Começou Pedro a dizer-lhe: eis que temos deixado tudo e temos seguido a ti.
29. Afirmou Jesus: verdadeiramente vos digo, não há ninguém que tendo deixado casa ou irmãos, ou irmãs, ou mãe ou pai ou filhos ou campos por causa de mim e por causa do evangelho,
30. Que não receba cem vezes mais agora neste tempo, casas e irmãos e irmãs e mães e filhos e campos com perseguições, e na era que vem a vida eterna.
31. Pois muitos primeiros serão últimos e os últimos primeiros.
2. CRÍTICA LITERÁRIA
2.1. Delimitação do texto
1) O texto é delimitado nos versículos l7-31, temos uma cesura antes do versículo 17 e também uma cesura depois do versículo 31.
2) Mudança de assunto em relação a perícope anterior, o assunto tratado nesta perícope é outro, isso é reforçado com a conjunção kai (e), Jesus estava saindo da presença das crianças. Em relação a perícope posterior o assunto também é outro, com a indicação de que estão indo para Jerusalém.
3) Mudança de personagens em relação a perícope anterior, no lugar das crianças aparece o jovem, os discípulos ainda estavam mas somente a partir do versículo 23.
4) Em relação a perícope anterior, a linguagem continua narrativa.
5) Mas, mesmo indo para Jerusalém e sendo outro assunto, os personagens são os mesmos.
6) Ainda com relação a perícope posterior há mudança na linguagem. O versículo 31 fecha a perícope em linguagem discursiva e o versículo 32, da outra perícope que inicia, está em linguagem narrativa.
7) O gênero literário da perícope posterior é o da paixão, diferenciando totalmente da perícope 10:17-31.
2) Mudança de assunto em relação a perícope anterior, o assunto tratado nesta perícope é outro, isso é reforçado com a conjunção kai (e), Jesus estava saindo da presença das crianças. Em relação a perícope posterior o assunto também é outro, com a indicação de que estão indo para Jerusalém.
3) Mudança de personagens em relação a perícope anterior, no lugar das crianças aparece o jovem, os discípulos ainda estavam mas somente a partir do versículo 23.
4) Em relação a perícope anterior, a linguagem continua narrativa.
5) Mas, mesmo indo para Jerusalém e sendo outro assunto, os personagens são os mesmos.
6) Ainda com relação a perícope posterior há mudança na linguagem. O versículo 31 fecha a perícope em linguagem discursiva e o versículo 32, da outra perícope que inicia, está em linguagem narrativa.
7) O gênero literário da perícope posterior é o da paixão, diferenciando totalmente da perícope 10:17-31.
2.2. Coesão
Apesar de estar dividida em três partes em sua estrutura, o texto mantém
a mesma idéia. Não podemos tratar somente 17-22, ou 23-27 e 28-31, pois
esta terceira parte é uma resposta da segunda que é resposta da
primeira. Há dois grupos em discussão: os que não seguem a Jesus devido a
situações circunstanciais e os que deixam tudo para irem com o mestre,
isso é tratado com o exemplo do jovem rico e a participação de Pedro
quando fala que tudo deixou para seguir o mestre.
Pois a negação do jovem em 17-22 desperta em Jesus um
comentário a partir do versículo 23 aonde está somente na companhia dos
discípulos, dizendo sobre a dificuldade que os ricos tem para entrarem
no reino de Deus. Isso faz aparecer a participação de Pedro nos
versículos 28-31, com a explicação do destino daqueles que seguiram a
Jesus, as recompensas. De maneira fácil podemos ver então que Mc
10:17-31 é um todo coeso que mostra duas situações que se relacionam,
pois está sendo discutida como uma preocupação de Jesus.
2.3. Estrutura
Podemos estruturar esta perícope da seguinte maneira:
A. 17-22 : JESUS E O JOVEM
17a : introdução
17b : o jovem pergunta ao bom mestre
18-19 : Jesus diz que Deus é bom somente e responde ao jovem
20 : o jovem é praticante dos mandamentos
21 : proposta de Jesus ao jovem
22 : reação do jovem frente a proposta
B. 23-27: JESUS E OS DISCÍPULOS
23-24: Impossibilidade dos ricos entrarem no reino de Deus
25:
confirmação da impossibilidade com uma pequena parábola “É mais fácil
um camelo passar através do buraco da agulha que rico entrar no reino de
Deus”.
26: dúvida dos discípulos face ao que Jesus disse
27: Jesus explica
A’ : 28-31: JESUS E PEDRO
28: Pedro mostra sua situação de seguidor
29-31: Jesus explica. Recompensa dos discípulos
2.4. Fontes
Em
Marcos 10:17-31, Jesus em sua fala usa trechos do Antigo Testamento.
Quando cita ao jovem os mandamentos, ele traz a lembrança aqueles
mesmos deixados com Moisés. Êxodo 20:12-16 e Deuteronômio 5:16-20
mostram todos eles, mas Jesus cita somente alguns visto a preocupação
que Ele tinha em falar com aquele jovem. Essa citação tinha como
objetivo descobrir se aquele jovem era realmente cumpridor de todos os
mandamentos, pois ele vivia segundo a lei que fora instituída no período
veterotestamentário.
3. ANÁLISE REDACIONAL
3.1. Comparação Sinótica
Marcos 10.17-31 Mateus 19.16-30 Lucas 18.18-30
17. E quando saiu em caminho, alguém correu e ajoelhando-se perguntava-lhe:
|
16. E eis que alguém aproximando-se, lhe perguntou:
|
18. Certo homem de posição perguntou-lhe:
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Bom Mestre, que farei a fim de que herde a vida eterna?
|
mestre, que farei eu de bom, para alcançar a vida eterna?
|
Bom Mestre, que farei para herdar a vida eterna?
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18. Jesus disse: Por que falas bom?
|
17. Respondeu-lhe Jesus: Por que me perguntas acerca do que é bom?
|
19. Respondeu-lhe Jesus: Por que me chamas bom?
| |||||
Ninguém é bom exceto Deus.
|
Bom, só existe um
|
Ninguém é bom senão um só, que é Deus.
| |||||
19. Os mandamentos conheces:
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Se queres, porém, entrar na vida, guarda os mandamentos.
|
20. Sabes os mandamentos:
| |||||
18. E ele perguntou: Quais?
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Não mates, Não adulteres, Não roubes, Não testemunhes, Não defraudes, honras a teu pai e a mãe.
|
Respondeu Jesus: Não matarás, não adulterarás, não furtarás, não dirás falso testemunho;
|
Não adulterarás, não matarás, não furtarás, não dirás falso testemunho,
| |||||
19. Honra o teu pai e a tua mãe, e amarás o teu próximo como a ti mesmo.
|
Honra a teu pai e a tua mãe.
| ||||||
20. Ele disse: Mestre, todas estas observei a partir de minha juventude.
|
20. Replicou-lhe o jovem: Tudo isso tenho observado, o que me falta?
|
21. Replicou ele: Tudo isso tenho observado desde a minha juventude.
| |||||
21. Jesus olhou-o, amou-o e disse-lhe:
|
21. Disse-lhe Jesus:
|
22. Ouvindo-o, Jesus disse-lhe:
| |||||
Uma coisa te falta,
|
Se queres ser perfeito,
|
Uma coisa ainda te falta:
| |||||
21. Igual a Mt e Lc.
|
21. (cont) igual a Mc e Lc.
|
22. (cont) igual a Mt e Mc.
| |||||
22. Propriedades
|
22. Propriedades
|
23. Riquíssimo
| |||||
23.E olhando ao redor, Jesus diz aos seus discípulos:
|
23. Então disse Jesus a seus discípulos:
|
24. E Jesus, vendo-o assim triste, disse:
| |||||
Como dificilmente os que tem riquezas entrarão no reino de Deus.
|
Em verdade vos digo que um rico dificilmente entrará no reino dos céus.
|
Quão dificilmente entrarão no reino de Deus os que tem riquezas!
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25. Igual a Mt e Lc.
|
24. Igual a Mc e Lc
|
25. Igual a Mt e Mc.
| |||||
26. Eles estavam mais espantados dizendo a si mesmos:
|
25. Ouvindo isto, os discípulos ficaram grandemente maravilhados, e disseram:
|
26. E os que ouviram disseram:
| |||||
e quem pode ser salvo?
|
Sendo assim, quem pode ser salvo?
|
Sendo assim, quem pode ser salvo?
| |||||
27. Olhando para eles, Jesus diz:
|
26. Jesus, fitando neles o olhar, disse-lhes:
|
27. Mas ele respondeu:
| |||||
Para os homens é impossível, mas não para Deus, pois para Deus tudo é possível.
|
Isto é impossível aos homens, mas para Deus tudo é possível.
|
Os impossíveis dos homens são possíveis para Deus.
| |||||
28. Começou Pedro a dizer-lhe:
|
27. Então lhe falou Pedro:
|
28. E disse Pedro:
| |||||
Eis que temos deixado tudo e temos seguido a ti.
|
Eis que nós tudo deixamos e te seguimos:
|
Eis que nós deixamos as nossas casas e te seguimos.
| |||||
Que será, pois, de nós?
| |||||||
29. Afirmou Jesus:
|
28. Jesus lhes respondeu:
Em
verdade vos digo que vós o que me seguistes, quando, na regeneração, o
Filho do homem se assentar no trono da sua glória, também vos
assentares em doze tronos para julgar as doze tribos de Israel.
|
29. Respondeu-lhes Jesus:
| |||||
Verdadeiramente vos digo, não há ninguém que tendo deixado casa ou irmãos, ou irmãs, ou mãe ou pai ou filhos ou campos
|
29. E todo aquele que tiver deixado casas, ou irmãos, ou irmãs, ou pai, ou mãe ou filhos ou campos,
|
Em verdade vos digo que ninguém há que tenha deixado casa, ou mulheres, ou irmãos, ou pais, ou filhos
| |||||
Por causa de mim e por causa do evangelho,
|
por causa do meu nome,
|
Por causa do Reino de Deus,
| |||||
30. que
não receba cem vezes mais agora neste tempo, casas e irmãos e irmãs e
mães e filhos e campos com perseguições, e na era que vem a vida
eterna.
|
receberá muitas vezes mais, e herdará a vida eterna.
|
30. Que não receba no presente muitas vezes mais, e no mundo por vir a vida eterna.
| |||||
31. Pois muitos primeiros serão últimos e os últimos primeiros.
|
30. Porém, muitos primeiros serão últimos; e os últimos, primeiros.
|
Este quadro sinótico nos permite fazer algumas observações:
1. Diferentemente de Lucas no versículo 18 que refere-se ao jovem como um homem importante "'arcon" , Mt e Mc referem-se ao jovem como sendo alguém "eis". Somente em Marcos o jovem se ajoelha diante de Jesus.
2. Em Marcos e Lucas, o jovem chama Jesus de Bom Mestre "Didaskale agathe", ao passo que Mateus só há a palavra mestre "didaskale".
(ninguém é bom exceto Deus, ou senão um que é Deus) acontece
de maneira igual em Marcos e Lucas, em Mateus é ( Não há bom senão um
só, que é Deus.).
3. Mateus faz uma introdução antes de citar os mandamentos (Se queres porém, entrar na vida) eí de Theleis eis tèn zoen eiselthein, isso não há em Marcos e Lucas. A pergunta "Legel auto"|Poías [cuales?] feita pelo jovem referente a quais mandamentos cumprir só existe em Mateus.
4. Os mandamentos são iguais em Mateus e Lucas, Marcos também é igual mas tem um mandamento a mais "Mè aposterésesh"|(Não defraudes). Mateus no fim os mandamentos tem a frase "Agapeseish ton plesion sou jos seauton" (amarás o teu próximo como a ti mesmo), Marcos e Lucas não possuem essa parte.
5. Marcos e Lucas têm a palavra "neotetósh" (juventude), Mateus omite esta palavra e acrescenta ainda uma pergunta "tí eti ustero" (o que me falta?). Em Mateus como resposta temos "ethe aùto o Iesous" (disse-lhe Jesus), e em Marcos temos como resposta :
"o` de Iesous emblépsas auto egapesen auton kai eipen auto" (Jesus olhou-o, amou-o e disse-lhe). Em Lucas temos como resposta :
"akousas dè o` Iesous eipen auto" (Ouvindo-o Jesus disse-lhe)
6. Mateus diferencia de Marcos e Lucas usando o termo Ei qeleij te,leioj einai (se queres ser perfeito). Mateus e Marcos adotam a palavra ktemata (propriedades), Lucas usa a palavra plousios (rico).
7. Em Mateus temos a frase :
O de Iesous eipen toi maqetais autou (Então disse Jesus aos seus discípulos). Em Marcos temos a frase :
Kai peribleyamenos o` Iesous legei tois maqetais auto (e olhando ao redor Jesus disse aos seus discípulos). E em Lucas temos a frase Idon de auton o` Iesous @perilupon genomenon eipen (E,
Jesus vendo-o assim triste, disse). Em Mateus Jesus foi direto aos
discípulos. E em Marcos ele olha em volta e depois fala, e em Lucas ele
observa ainda o jovem e depois fala.
8. Quando se refere a impossibilidade de se herdar o reino sendo um rico, Mateus usa a palavra Amen (em verdade) e, diferente de Marcos e Lucas que usam basileian tou qeou (reino de Deus), Mateus usa basileian ton ouranon (reino dos céus).
9. Mateus e Marcos usam a mesma palavra eqambounto
(espantado, maravilhado). Em Lucas não há isso. Os discípulos, ouvindo
já disseram sem que mostrassem suas reações emocionais; mas em Lucas não
há a palavra maqetais (discípulos).
10. Em Mateus e Marcos temos a palavra embleyas (olhando), Jesus olhou os discípulos e disse, mas em Lucas ele somente responde o` de eipen (respondeu ele).
11. Mateus e Marcos usam a palavra panta (tudo). Os discípulos deixaram tudo para seguirem a Jesus, em Lucas temos ta idia
(lar), aqui eles deixaram os lares . Mateus tem após a fala de Pedro,
uma pergunta feita pelo próprio Pedro que não tem em Marcos e Lucas, ti ara estai e min o que aconteceria com eles pelo fato de terem se entregado para Jesus?
12. Mateus e Lucas usam a palavra eipen (disse) e Marcos usa a palavra efe (afirmou).
13. No que se refere as coisas deixadas para seguir a Jesus, Mateus e Marcos são iguais e tem as palavras metera (mãe), patera (pai), agrous (campos) que Lucas não tem nenhuma delas, mas tem duas palavras que Marcos e Mateus não tem: goneis (pais), gunaika (mulher).
14. Em Mateus temos a frase eneken tou onomatos mou (por causa do meu nome). Em Marcos temos a frase eneken emou kai eneken tou evaggeliou (por causa de mim e por causa do evangelho). E em Lucas temos a frase eneken tes basileias tou Zeus (por
causa do Reino de Deus). Há três motivos diferentes para se deixar
tudo, por causa do nome de Jesus, por causa de Jesus e o evangelho e
por causa do reino de Deus. Diferente de Mateus e Lucas, Marcos mostra o
que receberão muitas vezes mais ( casas, campos, filhos, perseguições).
Mateus e Lucas não repetem isso. Eles só dizem que quem fizer isso
receberá muito mais, mas os três concordam que no futuro os seguidores
terão a vida eterna, enquanto Lucas não possui os finais de Mateus e
Marcos sobre os primeiros e últimos encerrando o seu relato.
3.2. Contexto literário de Marcos 10:17-31
O evangelho de Marcos é dividido em duas grandes partes, 1:16-8:26 e
8:27-16:8. A parte de 16:9-20 pode ser uma conclusão, mas é um acréscimo
feito posteriormente . O estudo do contexto literário visa localizar o
texto no contexto geral do evangelho. Bem, a primeira parte do evangelho
1:16-8:26 corresponde ao início do ministério de Jesus na Galiléia.
Nessa parte podemos ver os primeiros êxitos e os primeiros conflitos das
autoridades com Jesus, que começa o seu ministério chamando ajudantes
para acompanhá-lo nessa caminhada. Jesus vem como o Santo de Deus, em o
nome de Deus faz muitas coisas, teve a vitória sobre os espíritos
imundos, doenças, etc. Mas ele começa a encontrar barreiras em seu
ministério, através dos fariseus, que foram contra as suas práticas e
questionaram sua autoridade: “Quem é esse que perdoa pecados? Por que
seus discípulos colhem espigas no sábado?” Jesus veio para instituir o
novo modo de viver em várias áreas de uma sociedade que vivia sob o peso
da lei.
Os
líderes do judaísmo não estavam aceitando essa presença de Jesus, tanto
que logo em 3:6 já se tem a primeira idéia em se tirar a vida dele. O
tema da fé nessa seção é muito evidente, os parentes de Jesus e os
fariseus não criam nele, e nem os nazarenos. E até mesmo os discípulos
que, apesar de estarem sempre com Jesus, não estavam totalmente seguros.
Com a cura da filha de Jairo e da mulher com a hemorragia, Jesus mostra
o poder da fé, e o grupo que vai se formando em volta dele é
considerado sua família. Nessa parte, uma coisa a ser valorizada são as
constantes dúvidas dos discípulos. Jesus explicava e eles não entendiam
nada.
Nessa primeira parte do evangelho, sempre quando Jesus fazia um milagre pedia para que não contassem o seu feito: é o chamado segredo messiânico. Temos que destacar a importância da Galiléia no evangelho de Marcos, pois ele começa na Galiléia e termina na Galiléia. A geografia de Marcos não é somente uma geografia física, mas também é uma geografia teológica. A Galiléia é uma instância teológica, é um lugar bom, ela assume um papel importante no evangelho, pois historicamente Jesus começa na Galiléia e não em Jerusalém, indo a Jerusalém somente para morrer.
Mas a parte que nos interessa é o segundo bloco do evangelho
que vai de 8:27-16:8 que trata sobre a subida de Jesus para Jerusalém. A
partir de 8:27-33 com a confissão de Pedro e o primeiro anúncio da
paixão, acontece uma inversão na narrativa. Aquele Jesus quieto, que
não queria ser conhecido, começa a perguntar quem é, e começando assim o
outro momento de sua vida que vai até a crucificação. Jesus começa a
falar sobre o destino do filho do homem que terá a vitória através da
cruz e do sofrimento, evidenciado isso nos três anúncios da paixão
(8:31, 9:31, 10:33-34). A caminhada para Jerusalém é marcada por um
grande e constante esclarecimento do projeto messiânico de Jesus. E isso
não fica somente nos três anúncios da Paixão e ressurreição, mas também
no aprofundamento de suas conseqüências para os que seguem a Jesus.
Nesse sentido, podemos dividir este segundo bloco para mostrar a função
da perícope 10:17-31 neste segundo bloco.
De 8:27-10:52 temos um sub-bloco que pode ser chamado de bloco de
ensinos para a comunidade. Mc 11:1 até 12:2 narra os conflitos com as
autoridades em Jerusalém, 13:3-37 é o discurso escatológico, 14:1 até
16:8 é a narrativa da Paixão e ressurreição sendo 16:9-20 a conclusão.
Marcos 8:27-10:52 fala dos ensinamentos para a comunidade. Nesse bloco
Marcos discute temas que estão sendo presentes na comunidade. São dadas
instruções sobre o divórcio( 10:1-12), crianças (10:13-16) a riqueza
(10:17-31) o serviço (10:41-45). Dessa forma existe um processo didático
no evangelho, lembremos que o evangelho era lido para a comunidade.
Assim, temas como riqueza, divórcio e levar a cruz, são dirigidas para a
comunidade.
Na teologia de Marcos, a comunidade tem que andar no caminho que Jesus
andou. O que Marcos narra a respeito da atuação terrena de Jesus está
relacionado ao querigma da cruz e ressurreição. Marcos, no ato de
reformular a tradição de Jesus, tinha como objetivo dar orientações para
a comunidade. Nesse sentido, a perícope de 10:17-31 tem uma preocupação
e a sua função no bloco
é importante. Ela trata a relação entre a posse de riquezas, a vida
eterna e o seguimento a Jesus. Trata-se de um desafio presente na
comunidade marcana. O desprendimento das riquezas era um meio possível
para seguir a Jesus, com certeza muitos ricos na comunidade estavam
negando o chamado de Jesus devido ao tipo de vida que isso exigia, e
pensando que seguir a Jesus era uma coisa mais descompromissada.
3.2.1. O contexto integral: O Evangelho de Marcos
3.2.1.1. Autoria
Sobre a autoria de Marcos, muitas são as informações. O autor
não revela identidade em nenhum lugar do evangelho. A mais antiga
tradição, que temos em Papias menciona Marcos como autor, que havia
estabelecido por escritos ou acontecimentos narrados por Pedro, mas isso
não pode ser provado, Papias não teve conhecimento verdadeiro a
respeito das relações do autor de Marcos com Pedro, e o material de
Marcos é produto de uma tradição histórica complicada e contraditória.
Esse Marcos que Papias fala pode ser o João Marcos dos Atos dos
apóstolos, teria existido na igreja primitiva essa idéia de colocar a
autoria dos evangelhos a discípulos de Jesus, mas a existência disso na
época de Papias só diz respeito a Mateus, sendo assim muitos atribuem a
João Marcos, mas essa tradição é de pouca credibilidade, a referência a I
Pedro 5:13 não explica essa tradição mas só a ligação de Marcos com a
pregação de Pedro, assim sendo, seu autor é desconhecido. Foi levantada a
hipótese se atrás da menção do jovem que seguiu a Jesus depois de sua
detenção estava uma alusão secreta ao autor, mas isso precisa de muito
fundamento, não se pode demonstrar relações com Paulo, mesmo que nos
dois haja o termo euvaggeli,ou e se fala abba o pater
e se fala da morte vicária de Cristo, mas essas ligações devem ser
atribuídas a uma tradição cristã primitiva comum acolhida tanto por
Paulo quanto por Marcos, mas não se pode falar de uma influência de
Paulo em Marcos.
3.2.1.2. Local
Papias já defendia a composição de Marcos em Roma, em apoio dessa
tradição com a qual está de acordo a maioria dos estudiosos, tem sido
mencionado o uso de numerosos termos latinos de uso corrente, mas Marcos
está obrigado a lidar com termos técnicos militares. Se encararmos por
outro lado, nada leva a Roma, e o mais provável é que se trate de uma
comunidade cristã oriental composta de gentios. Alguns autores dizem que
foi em Antioquia devido a relação de Pedro com esta cidade e que se
tratava de um centro de cultura romana. Outros dizem que foi na Síria
ou na Alta Galiléia.
3.2.1.3. Data
Sobre
a data muitos atribuem ao ano 66-70 por não haver referências sobre a
destruição de Jerusalém, outros acham que foi depois do ano 70. Brandom
vê em Marcos 13 o reflexo da situação dos cristãos de Roma no ano 71. A
diferença entre a datação mais remota e a mais próxima depende da
interpretação que no discurso apocalíptico se dá referência à destruição
do templo de Jerusalém no ano 70, também é esta data a mais aceita
porque não há nenhum argumento sério a favor de uma data antes ou depois
de 70. Fiquemos então com o ano 70.
3.2.1.4. Destinatários
No
que se refere aos destinatários e suas características, numa análise
podemos ver que não são cristãos de origem judia, e sim de origem pagã,
através de uma comparação com Mateus que contém dados sobre os de origem
judia. Fazendo uma comparação entre os dois evangelhos, vemos que
Marcos fala da casa de oração para todos os povos, e da anunciação da
boa nova a todos os povos, isso falta em Mateus. Lá Jesus disse que
foi somente enviado
às ovelhas de Israel. É uma comunidade tentada em colocar o plano da
cruz em segundo lugar, ou uma comunidade que vive em perseguições, há
membros desanimados e com pânico. Com grandes chances, Marcos foi
compilado para gregos em uma comunidade cristã em algum lugar do
oriente, talvez a Síria, na época da guerra judaico-romano, por volta do
ano 70.
4. ANÁLISE MORFO-CRÍTICA
Na
crítica literária e da redação fazemos a análise do texto para
identificar a delimitação e estrutura do texto bem como os acentos
teológicos e o contexto em que foi usado. No novo testamento há muitas
maneiras na qual os textos se expressam para comunicar a sua mensagem,
as quais são definidas pelo gênero literário. Dentre
os vários gêneros literários existentes temos o chamado paradigma,
segundo Dibélius, Bultman chama de apotegma e Taylor de Pronoucement
stories. ( BITTENCOURT. 1969, pp.31).
Uma característica importante do Paradigma é que ele termina num dito,
ou num pronunciamento de Jesus, através de uma frase curta e incisiva.
O Apotegma é uma narrativa cujo sentido culmina numa máxima importante,
numa pergunta ou numa resposta expressa em forma de sentença. (WEISER. 1978, pp. 70). O
paradigma é breve, sem pormenores, tem uma introdução que tem a função
de tornar o pronunciamento compreensível. Nesse sentido o acontecimento
que está junto dessa frase importante constitui a moldura em que a frase
importante está inserida. Sobre
isso Bultman chama de paradigmas biográficos, e ele acha que as
narrativas que vestem os pronunciamentos não são históricos, mas são
cenas que aparecem diante dos ditos de Jesus para explicá-los. (BITTENCOURT. 1969, pp.34).
Outra característica marcante do paradigma é a sua conclusão com um
pronunciamento de Jesus, que pode ser com palavras ou atos, mas ambos
mostram o efeito do dito de Jesus. Essa conclusão é curta, mas o que
importa é o pronunciamento. Estes pronunciamentos de Jesus davam orientações aos cristãos, e circulavam em unidades da tradição ou combinados em grupos sob tópico formal.
(BITTENCOURT. 1969, pp.32). Na classificação dos textos com Paradigmas
em Marcos vemos que Dibélius encontra dezoito textos com esse nome
Paradigma, sendo que para ele oito são legítimos Paradigmas e outros dez
não são muito legítimos pois não representam a verdadeira forma traçada
pelos eruditos[1].
[1] - Cf. BITTENCOURT, 1969:34
Segundo
Dibélius e Bultman, o texto de Marcos 10:17-31 tem como gênero
literário o Paradigma. Para Bultman os versículos 17-22 formam uma
unidade básica tendo como complemento os versículos 23-27 e 28-31.
Dibélius já classifica esse texto como sendo paradigma menos puro. Os
versículos 23-27 e 28-31 narram episódios que se retomaram porque
estavam relacionados com o relato da pergunta do jovem rico. Assim,
embora o texto esteja delimitado de 17-31 temos três seções: 17-22 que
fala do encontro de Jesus com o jovem; 23-27 que tem o ensino de Jesus
aos discípulos; 28-31 que fala das recompensas do discípulo. Esses dois
textos seguintes relacionam-se com 17-22 pois falam sobre o seguir a
Jesus e a vida eterna. Em 17-22 está o apotegma, mais especificamente no
versículo 21 aonde há o convite em se largar tudo e seguir a Jesus.
Esse convite supera a observância dos mandamentos, pois com o convite se
responde a pergunta do jovem sobre o que fazer para herdar a vida
eterna. Mas no caso do jovem isso não foi possível, e Jesus mostra o
ponto máximo dessa impossibilidade com uma pequena parábola no versículo
25. Podemos dizer também que o versículo 31 é um paradigma, pois Jesus
termina o seu dito com uma resposta geral ao assunto discutido, uma
inversão total de valores que com certeza surpreenderá a muitos.
5. ANÁLISE SEMÂNTICA
Nessa
parte faremos a análise de conteúdo baseado na estrutura ora já
apresentada. Explicaremos os temas presentes nas partes da estrutura que
está dividida em três partes:
A - 17-22: JESUS E O JOVEM
17a:
No caminho para Jerusalém, após o relato com as crianças, Jesus põe-se
pronto a continuar o seu caminho, mas é interrompido de uma maneira
inesperada por um homem, que pelo menos aqui, não é descrito de maneira
detalhada quem seja, mas se achega a Jesus e, de joelhos, faz uma
pergunta que o preocupava muito. O ato de ficar de joelhos é a marca do
estilo dos relatos judaicos de conversão. Nesse sentido, veremos mais a
frente que o objetivo desse jovem realmente é descobrir o que fazer para
ter a vida eterna, ou seja, conversão.
17b:
Como continuação do ato anterior, o jovem faz a pergunta: “Bom Mestre,
que farei a fim de que herde a vida eterna?” Vemos que o termo “Bom”
usado por esse homem, não é muito comum no judaísmo Didaskale agaqe,.. Podemos ver nesse homem uma falsa humildade . Vemos que:
...
ele tenta impressionar com um cumprimento e, talvez, espera ser saudado
com um título honorífico em troca. No mundo oriental, esse cumprimento
exige um outro, um segundo. Esta parece ser a tensão do texto, pois Jesus não retribui o cumprimento. ( BAILEY. 1985, pp. 348-349).
O
homem acha que sairá agraciado, mas Jesus é inteligente e em muitas
passagens mostra essa sua resposta áspera que tem como objetivo testar a
seriedade das intenções de seu interlocutor. Isso nos torna capazes de
entender as respostas de Jesus. A sua pergunta em relação a como herdar a
vida eterna não é uma pergunta qualquer, há a intenção do homem de
entrar em juízo consigo mesmo, pois tinha dúvida a respeito disso. É uma
pergunta didática em busca de uma resposta didática.
Considerou-se o
templo como o lugar da vida e a vida eterna pressupõe a fé na
ressurreição dos mortos. Mas esta fé que espalhou-se no judaísmo junto
com a apocalíptica fez com que não mais garantisse a salvação do povo e
que cada um é chamado a decisão e a vitória moral . (GNILKA. 1986, pp. 98).
Nesse sentido querer fazer alguma coisa, é
fazer alguma coisa em relação a lei, mas deveria haver o conhecimento
dela e também a sua interpretação. Segundo o texto, para ter a vida
eterna, se requer condições que superam o que a lei exige.
18-19: Jesus começa a sua resposta, primeiramente destacando o termo
”Bom Mestre”, da qual foi chamado, e diz que Bom é somente Deus. Isso
acontece porque sobre o Deus Bom o judaísmo rabínico sempre falou e
também o helenístico. O jovem chegou muito animado, falando que Jesus
era Bom, mas somente Deus é bom, mas a posição divina de Jesus não é
alterada, mesmo ele sendo um homem. Com a não aceitação do termo Bom
Mestre, Jesus não pretende devolver a pergunta de como herdar a vida
eterna, mas corrigir a afirmação do homem. Pois ele deve esperar a
resposta de Deus, não há resposta paralela ou superior, pois Jesus só
diz a vontade de Deus. Isso tem um valor cristológico.
Mas
o texto não mostra a insignificância de Jesus em relação a Deus, Jesus
disse: segue-me. Se fosse para mostrara sua insignificância ele mandaria
o homem seguir a Deus, mas Jesus manda ao homem que o siga, é este o
ponto mais alto do que é exigido dele, com isso Jesus é o agente de
Deus, através de quem se expressa obediência a Deus. (BAILEY. 1985, pp 349).
Com a citação dos mandamentos a
cumprir, podemos perceber que os mandamentos citados por Jesus são da
segunda tábua, há a lembrança da lei de Israel. Mas outro fato curioso é
que os mandamentos citados são obrigações para com os semelhantes, isto
é, para amar a Deus tem que se amar e ser fiel aos semelhantes, porque
Deus é o nosso semelhante. Desses mandamentos extraídos do Êxodo vemos
que um não existe Me apostereses (não defraudes).
Essa
palavra usada por Jesus era muito forte, na versão grega do AT o verbo
significa ao ato de reter o salário do trabalhador, e no grego significa
a recusa de devolver os bens, o dinheiro deixado para que alguém cuide.
(TAYLOR. 1979, pp. 511).
Vemos que Me apostereses pode ser considerado um compêndio do nono e décimo mandamentos e é uma forma negativa de expressar o mandamento Me kleyes “Não furtarás” que
pode ser interpretada como sendo as obrigações sociais que se devem
cumprir. Ao incluir um novo mandamento, Jesus estava realmente
destacando a questão fundamental da vida do homem que lhe fez a
pergunta. Assim não é permitido retirar o sustento da vida e o salário
dos pobres, o que se encaixa com a realidade do homem que veremos a
seguir.
20:
A continuação da conversa é interessante. Com a afirmação “Mestre,
todas estas observei a partir de minha juventude”. O homem mostra-se um
fiel cumpridor dos mandamentos, sente-se satisfeito em estar correto
diante deles mas sua afirmação é presunçosa. O Talmude cita muitos que
cumpriram a lei como Moisés. Essa resposta do homem então desperta a
resposta crucial de Jesus ao homem, um desafio em sua vida. Temos a
confissão do israelita de que se podem cumprir os mandamentos sendo
conhecidos, no seu caso, desde a juventude. O que Jesus recordou citando
a lei pressupõe que o homem praticou e pratica a vontade de Deus em sua
forma conhecida e pedida até aquele momento.
21: Jesus aqui olhou com amor para o homem. É a única vez, no evangelho
de Marcos que se diz ter Jesus olhado “com amor” para uma pessoa. Jesus
teve de ser honesto com aquele homem e anunciou clara e diretamente o
caminho para o reino que é a honestidade com amor. Jesus não condena o
homem, mesmo com sua resposta impetuosa, ao olhar sentiu carinho por
ele. O verbo usado, agapao, designa provavelmente impulso interno de admiração e afeto. Jesus sentiu-se atraído instintivamente para esta pessoa pura e séria
(TAYLOR, 1979, pp 512). O olhar e a fisionomia de Jesus nos preparam
para a continuação da conversa. Não acontece da parte de Jesus o
reconhecimento da contribuição do homem em cumprir a lei, mas há agora
um chamado. É uma nova exigência: vender tudo o que tem e dar o valor
aos pobres para ter um tesouro nos céus e seguir a Jesus, akolouqei moi. Jesus faz uma proposta mais forte ao que se considerava um bom seguidor do Mestre. Essas duas coisas a fazer são superiores a todo
cumprimento das leis, pois o desprendimento das posses terrenas que tem
como prêmio o tesouro nos céus é a vontade de Deus para esse homem. A
resposta de Jesus atinge o centro da vida daquele homem, que é seguidor
do deus Mamom, um devoto das riquezas. Mas, como seguir a Jesus?
Vemos que a palavra akolouqei moi significa segue-me no evangelho de Marcos. akolouqeo que
significa seguir, ir para algum lugar com outra pessoa, ou seja,
acompanhar, ir atrás de alguém. Essa palavra tem um significado especial
quando se trata de indivíduos. Jesus, no imperativo, chama os
discípulos e a resposta deles é descrita como sendo o “seguir”.
akolouqeo sempre é a chamada ao discipulado decisivo e íntimo do Jesus terrestre. Sempre indica o início do discipulado.
(BROWN. 1989, pp.659). Jesus não esperou por discípulos voluntários,
sempre os chamou com autoridade divina. Ser um discípulo de Jesus era
uma vocação escatológica para contribuir no trabalho do reino que estava
por vir. Geralmente, aquele que aceita a nova vocação abandona a
antiga, não de maneira opressora mas é em si mesmo. O homem dessa
história não conseguiu se libertar da sua antiga vocação. Mesmo os que
já seguiam a Jesus estavam sujeitos a isso, em fazer novas reservas no
seu discipulado. É necessário fazer a nova decisão para ter completa e
total obediência enquanto se é discípulo. O caminho deixado por Jesus em Marcos é o caminho da cruz, é seguir o mesmo caminho que o mestre seguiu. O
segmento a Jesus significa união aquele que foi pobre pessoalmente, que
não espera consolos deste mundo e consequentemente vai decididamente a
cruz. (GNILKA. 1986, pp.101).
Obedecer
os mandamentos não é para ter um destaque diante dos outros não é
cumpri-los de uma maneira mecânica e sim, como expressão de amor aos
semelhantes. O homem pertencia à elite econômica do judaísmo. Para os
judeus daquela época, ser rico era sinal da bênção divina. Como Jesus
poderia pedir aquele homem que deixasse suas terras e riquezas, para
segui-lo? Será que Jesus não sabia que os ricos eram abençoados por
Deus?
As
exigências propriamente ditas tocam no âmago dos mesmos valores
primordiais sugeridos pela reordenação dos mandamentos, a saber,
propriedade e família. As propriedades da família são de supremo valor
na sociedade do Oriente Médio, porque são símbolo da coesão da família
ou do clã. É-lhe pedido para colocar a lealdade à pessoa de Jesus em
posição mais alta do que a lealdade à sua família e às propriedades de
sua família, pois as duas coisas são uma... mas ele falhou e não
correspondeu a exigência. (BAILEY. 1985, pp.350).
Seguir
a Jesus ao ponto de entregar a sua vida é a conseqüência lógica e
aplicação da lei da morte e ressurreição e é um meio para ter a vida
eterna.
22:
Contrariado e triste, o homem foi embora. A única pessoa que, no
evangelho de Marcos, procurou Jesus a fim de “herdar a vida eterna”. Ele
não entendeu que a sua riqueza era uma fraude perante Deus. Por isso,
Jesus acrescenta o mandamento “Não defraudarás”. No AT, a herança era a
parte que Deus daria a cada família Judaica na Terra Prometida, a qual
não podia ser vendida e acumulada. Este homem queria a herança da vida
eterna, pois já havia acumulado e defraudado as heranças de outros na
terra. Garantida a riqueza terrena, quis também a riqueza eterna, mas
ele não entendeu a mensagem de Jesus. O caminho do reino de Deus é o da
renúncia e justiça e obediência a Deus. Ele só queria garantir a sua
eternidade. O novo padrão estabelecido para o homem rico está além da
sua capacidade de cumpri-lo e ele ficou triste, sem dúvida, pelo seu
amor a riqueza, ou seja a propriedade da família na qual ele faz parte e
é o chefe, Jesus exige lealdade maior do que a lealdade à riqueza
venerada. Por esforços humanos é impossível obter a vida eterna. Isso só
vem gratuitamente de Deus. Em geral podemos dizer que esse bloco trata
sobre a situação do grupo que rejeita ao chamado de Jesus, representado
pelo homem rico. A velha ordem não compreende o novo instituído por
Jesus.
B. 23-27: JESUS E OS DISCÍPULOS
23-25: Em face da saída do homem, Jesus começa a comentar, no versículo
23, sobre a impossibilidade de entrar no reino de Deus aqueles que têm
riquezas. Jesus fala sobre o perigo das riquezas e o assombro por parte
dos discípulos faz com que Jesus repita no versículo 24b a expressão:
“mais fácil é um camelo passar através do buraco da agulha que um rico
entrar no reino de Deus”. Jesus usa uma pequena parábola para ilustrar
essa impossibilidade. A expressão camelo tem dado muito trabalho aos
intérpretes do texto. Há duas tentativas de explicar o sentido. Uma
procura através da linguística. Alguns intérpretes dizem que a palavra
grega foi copiada de maneira equivocada: ao invés de camelo kamelos, afirmam que o certo era kamilos,
que é traduzido como sendo uma corda grossa. Seria apenas a mudança de
uma letra. Aí, possivelmente, ficaria correto, já que é impossível uma
corda grossa passar pelo fundo de uma agulha. Parece que alguns copistas
tentaram melhorar o sentido do texto e fazer possível a salvação para o
rico se ele se esforçar, mas o apoio a essa idéia não é grande. Outra
tentativa vem do Oriente Médio, onde as casas tinham portas que tinham
que ser largas para que o camelo passasse. Essas portas tinham a mesma
medida na altura e largura: cerca de três metros. Feitas de madeira
maciça e eram abertas quando havia camelos com a carga. As pessoas se
movimentavam através de uma porta pequena construída na porta maior. Segundo comentaristas, este seria o fundo de uma agulha. Sendo assim, esta parábola mostra
um quadro concreto de algo que é realmente impossível. O camelo é o
animal mesmo e a agulha é a agulha de costura mesmo. Jesus usa uma
figura de estilo chamada hipérbole, a qual tem a função de ressaltar uma
idéia. Aqui Jesus quer deixar claro que é mesmo impossível um rico
entrar no reino de Deus.
Vemos que o versículo 25 é realmente dito de Jesus. Isso é confirmado
pela linguagem e a postura crítica frente à riqueza. Jesus fustigou em
outros lugares o mamonismo. A idéia do seguimento encaixa-se
perfeitamente com o conceito que Jesus tem de discipulado. Marcos faz da
tradição um episódio que destaca o caminho para Jerusalém. Antes de ser
o assunto principal da perícope, a questão da propriedade, o
evangelista chama a atenção sobre a ameaça que pode acabar com a
existência do discípulo.
26-27:
Em vista dessa parábola, os discípulos mais uma vez ficam espantados:
”Quem pode ser salvo?”. Se o judaísmo dava à riqueza um sinal da bênção
divina e Jesus a desqualifica, qual seria o destino dos que não tinham
nada? Aí vemos que a resposta de Jesus, no versículo 27, esclarece a
questão: “Para homens é impossível, não para Deus, pois para Deus tudo é
possível”(27). A pergunta dos discípulos, feita anteriormente, leva
Jesus a afirmar isso. Só se salvam segundo a vontade de Deus e não por
mérito humano ou vontade humana, isto é, a salvação é um milagre. Um
homem rico, com seus esforços não pode entrar no reino. Ele só pode
entrar no reino ajudado por Deus.
A’ - 28-31: JESUS E PEDRO
28:
Pedro torna-se o representante dos discípulos. Ele se coloca junto com
os discípulos apresentando uma resposta adversa a do homem rico: eles
abandonaram tudo. As exigências feitas ao homem estão também no âmbito
da separação familiar. Podemos dizer que Pedro e os outros são exemplos
vivos do milagre de que Jesus está falando, mesmo com família e posses e
morando no Oriente Médio, foram capazes de atender o chamado de Jesus.
Realmente houve milagre com eles. O que era impossível para pensamento
humano, faz-se possível com Deus, através da entrega dos discípulos ao
serviço do reino de Deus. A resposta de Jesus ao que Pedro disse dá-nos a
impressão de ser muito mais do que um ensinamento, Jesus responde com
essa promessa. A renúncia na terra tem como fim uma recompensa grande
Essa concepção de recompensa já era conhecida pelo judaísmo e pode ter
sido elaborado na apocalíptica. O judaísmo helenístico poderia haver
herdado os conceitos apocalípticos, onde os sofrimentos que passam
devido a lei são comparados com a glória que será muitas vezes mais no
mundo por vir [1].
29-31:
Dando continuidade ao assunto anterior, Jesus descreve os benefícios da
entrega e da renúncia, comparando os velhos e os novos requisitos da
obediência:
Antes
não podia haver roubo nas propriedades, agora tem que se deixar a
propriedade. Antes não podia cobiçar a mulher do próximo, agora tem que
deixar a própria. Antes honrava-se o pai e a mãe, agora era deixá-los
como prova de fidelidade. (BAILEY. 1985, Pp. 356).
As duas
lealdades mais importantes do cidadão do Oriente Médio, quase mais
importantes do que a própria vida, são a família e o lar. Jesus coloca
ambas juntas e exige uma lealdade que sobressaia a elas. Ele quer o que é
impossível para o homem, mas possível para Deus. A pregação de Jesus
vai ao encontro dessas culturas causando choques e rompendo muitas
lealdades culturais dos seus seguidores.
Vemos
com isso que o galardão acontece graças a obra de Deus e não por
méritos humanos. Colocar a obediência a Jesus acima da obediência a
família e às posses. Quem obedece tem inúmeras recompensas nesta era e
na futura. Realmente, segundo a graça de Deus, o homem recebe a vida
eterna e não a adquire pelos seus méritos.Com
a restituição de casas e famílias nesta vida, colocamo-nos diante de um
espelho da comunidade que se entende a si mesma como uma fraternidade
na qual está disposta a repartir. (GNILKA. 1986, pp. 107).
O
esquema apocalíptico dos dois eones deixa claro a espera de algo para
esse tempo, que é realizar a fraternidade como comunidade de Deus,
receber realmente cem vezes mais neste tempo e na era ainda por vir.
Finalmente, no versículo 31 vemos a mudança de papéis. Essa mudança
pode-se referir aos que mandam e aos que não mandam, reis e escravos. A
expressão ”muitos primeiros” exclui um jugo global. Há quem continua
sendo o primeiro e último. Essa mudança tem como referência a
comunidade. Não há motivo para considerar a promessa da recompensa como
afirmação desprotegida, não se pode calcular a recompensa. O impedimento
para uma comunidade melhor seria a arrogância e que membros dessa
comunidade que têm funções de direção se
achem como primeiros e os outros como sendo últimos. Temos que lembrar
aqui da liberdade de Deus que pode surpreender aqueles que se acham
superiores. Temos uma advertência para aqueles que estavam forçando uma
dominação. O reino novo é de comunhão, partilha, sem diferenças, hierarquias ou privilégios.
Segundo Marcos, os últimos que serão primeiros talvez sejam os
discípulos, mas a sentença poderia ser também uma advertência dirigida
aos discípulos. (TAYLOR. 1979, pp. 520).
Aqui,
o chamado é correspondido e a nova ordem de Jesus se funda a partir da
antiga. Os versículos 28-31 descrevem a situação daqueles que já seguem a
Jesus.
[1] - Cf. GNILKA,
1986, p.106. Em 4 Esdras 7:89-91, vemos que as tribulações e perigos
devido ao cumprimento da lei são compensados com a glória sete vezes
maior no mundo celeste.
6. SÍNTESE TEOLÓGICA
No nosso trabalho de conteúdo encontramos algumas teses teológicas, as quais destacamos a seguir:
1
- O DINHEIRO, EM MARCOS, É UM IMPEDIMENTO PARA SER DISCÍPULO. Vemos que
as propriedades e o que elas representam são um grande obstáculo para
uma obediência do chamado de Jesus. As riquezas, para o povo judaico,
era sinal da bênção de Deus. Jesus, com a sua nova pregação, diz
exatamente o contrário. Ser discípulo é largar as posses terrenas para
herdar a posse eterna. Com isso
é muito difícil abandonar as riquezas, pois está em jogo uma cultura,
uma religião que já durava há muito tempo. Mais uma vez vemos a
dificuldade de seguir o chamado de Jesus, esse tema realmente percorre
este trecho e Jesus é preocupado sempre em afirmar que é necessário
largar as riquezas para ser discípulo.
2.
A VIDA ETERNA ESTÁ ALÉM DOS MÉRITOS HUMANOS, SOMENTE DEUS PODE
CONCEDÊ-LA. O homem que pergunta para Jesus acha-se totalmente apto para
herdar a vida eterna, isto é, cumprindo os mandamentos ele crê que vai
conseguir. Isso não é possível pois vemos que muitos cumpriam os
mandamentos somente para manter a boa aparência, não havia o compromisso
realmente. Quando Jesus responde que uma coisa falta a fazer, a alegria
do homem transforma-se em decepção, pois a sua idéia de salvação era
diferente da idéia de Jesus. Ele achou que tendo tudo na terra, como
poder e honra, poderia conseguir a salvação quando bem quisesse. A
salvação é um grande milagre vindo de Deus que excede toda possibilidade
humana.
3.
JESUS É O ÚNICO AGENTE DE DEUS. ATRAVÉS DELE É POSSÍVEL DEMONSTRAR
SEGUIMENTO A DEUS. Quando Jesus diz que somente Deus é bom, quer dizer
que segundo o pensamento judaico somente Deus é bom, mas isso não tira a
divindade de Jesus, ele disse para o homem “segue-me” e não siga a
Deus. Temos uma crescente Cristologia em Marcos que afirma que para
herdar a vida eterna é necessário seguir o Jesus terrestre.
Consequentemente, a obediência a Deus é alcançada.
4.
A FÉ É EXPRESSA NA LEALDADE EM JESUS. Quando Jesus chama os homens a
uma vida de renúncia. Esta perícope faz parte do bloco dos ensinos para a
comunidade. Por isso, andar no caminho de Jesus é andar no caminho que
ele andou, o caminho da cruz, da humildade, da submissão. Esta
prática tem que ser superior ao amor e lealdade a família e as
propriedades. Somente em Jesus a fé é expressa e a vida eterna também.
5.
A NOVA ORDEM DE JESUS SURGE, MAS NÃO ANULA A ORDEM ANTERIOR. Realmente,
as palavras de Jesus estão criando uma ruptura radical no tecido das
lealdades culturais dos ouvintes, mas o que ele fala não acaba com a
antiga concepção da salvação. Ele partiu dela indo além com outros
significados. Jesus re-significa os mandamentos, aliando a eles a graça
operadora de Deus.
6.
O GALARDÃO DO SEGUIMENTO É PARA O AQUI E O ALÉM. Os que compreenderam o
chamado de Jesus e, mais ainda, a salvação vinda de Deus, estão conscientes
de que receberão os galardões do reino tanto na vida do tempo atual
quanto na que há de vir. Basta deixar tudo, o que o homem rico não fez.
7.
OS QUE TENTAM SE GALARDOAR POR SI SÓ NÃO CONSEGUEM SEGUIR AVANTE NESTE
PROCESSO. O homem que quer a salvação por seus próprios esforços é
limitado. Chega o momento que lhe é impossível fazer determinada atitude
para herdar o galardão pois está além das suas capacidades. O homem não conseguiu dar tudo o que tinha. Entretanto, temos Deus que torna tudo possível.
7. RELEITURA TEOLÓGICA
Podemos
fazer uma interessante releitura de Mc 10:17-31. Este texto apresenta
um teste para a nossa compreensão de salvação. De maneira desafiadora,
Jesus expõe a relação entre salvação e riqueza, entre a entrada no reino
de Deus e a entrada no reino de Mamom. Vemos que muitas igrejas têm
tentado suavizar a exigência de Cristo em segui-lo. Muitos
espiritualizam o ensino de Jesus e acham que deixar tudo é um ato
somente do coração e não da ação, e não deixam que seu bolso seja
afetado. Como resultado vemos igrejas pouco envolvidas com trabalhos
missionários, já que isso é custoso e não tem garantia de retorno. Vemos
igrejas que, por não haver esse desprendimento, não conseguem crescer,
querem ficar no aconchego e assumir amor ao seu conforto e a sua
situação e as consideram muito mais importantes do que o verdadeiro
caminho do reino de Deus. Têm medo de se entregarem dessa forma e não
compreendem voltando tristes. O amor às riquezas impediu o homem de
seguir a Jesus, quantas coisas não impedem hoje o homem de
verdadeiramente ter uma vida de discípulo? Muitos transformam o
discipulado em uma coisa fácil de ser praticada por todos sem muitas
exigências. Realmente podemos aprender que a vida de discipulado é uma
vida realmente de entrega, sem medir esforços ou pensar nas
circunstâncias da vida, não é que nem muitos que criam em ver meios
fáceis para seguirem a Jesus.
Com
isso podemos perguntar o que camelos e agulhas tem a ver com o caminho
do reino de Deus para nós hoje? Vemos que isso significa a
impossibilidade do ser humano alcançar, por si mesmo, a salvação e
entrar no reino de Deus. Muitos ficam apegados na religião, na igreja
para serem salvos. O homem rico achava que cumprindo as leis teria a
salvação. Mas a salvação não se consegue pela prática da lei. Muitos
pensam hoje que fazendo tudo correto, conseguirão uma posição melhor
perante Deus. Entretanto, não querem se envolver profundamente. A
religiosidade não dá a vida eterna. Freqüentar a igreja não abre a porta
do céu. A fé que Cristo nos pede é muito mais que doutrinas religiosas.
E é essa fé que nos faz livres de toda riqueza humana para servir a
Jesus, como caminho para a salvação. Nesse sentido temos o outro
exemplo, o de Pedro e os discípulos. Eles compreenderam bem o sentido da
salvação. Não serviam apenas para agradar a Deus e ao próximo e nem
hesitavam no que se refere a disposição no trabalho. Apenas creram na
certeza de que agora e no futuro receberiam muito mais, não porque
pediram, mas teriam por causa da graça e da justiça de Deus. Muitos,
graças a Deus, entenderam isso. Hoje temos exemplos de homens e mulheres
que venceram as barreiras da cultura, da família e da economia para
servirem ao nosso Deus segundo o exemplo de Jesus Cristo. Que possamos
sempre nos perguntar se somos os últimos que serão os primeiros, ou
supostos primeiros que serão últimos.
De maneira conclusiva, consigo ver para os nossos dias três lições dessa perícope:
1 -
Seguir a Cristo é realmente desprender-se de todos os recursos mundanos
para haver a cooperação no trabalho do reino de Deus, (o homem rico não
trabalhava realmente).
2 - A
salvação não está na religião, ou ir em igreja para ter lugar no céu, e
sim no envolvimento integral com o reino de Deus, (o chamado de Jesus
ao homem que sai).
3 - A
entrega com amor sincero no serviço do reino de Deus faz com que o
servo fiel não faça a sua tarefa com segundas intenções: “o que ganho
com isso?”, e, sim, faz tudo para a glória de Deus em primeiro lugar,
(Pedro e os discípulos).
CONCLUSÃO
Realmente
o texto de Marcos 10:17-31 é de muita importância no evangelho. Fazendo
parte do bloco dos ensinamentos para a comunidade, vemos que ele foi
necessário. Pois Marcos tinha que acabar com algumas dificuldades
presentes na sua comunidade no que se refere ao seguimento a Jesus. Os
temas presentes na nossa Síntese Teológica como: o dinheiro como
impedimento para a salvação, salvação que está além dos méritos humanos e
a fé expressa na lealdade em Jesus, entre outros, com certeza eram
pensamentos da comunidade. E Marcos tinha que mudá-los.
Creio
que o texto que fala sobre o homem rico é um alerta para todos, o
apotegma do versículo 21 quando correspondido, mostra o verdadeiro
seguimento a Jesus. Também a atitude dos discípulos que abriram mão da
família e dos bens para seguirem a Jesus - sendo que os bens e a família
significa tudo ao homem judeu - é um exemplo de seguimento. Tendo como
base a pequena parábola do versículo 25, vemos a impossibilidade do
homem rico entrar no Reino de Deus, somente em Deus isso é possível.
Que estas e outras explicações presentes neste trabalho exegético nos
dêem a real compreensão desse texto tão importante do evangelho de
Marcos.
- Cf. LOHSE, 1974: 139-40, relata-nos que, o final secundário de Marcos surgiu já no século II e pressupõe o conhecimento das histórias pascais dos três outros evangelhos. As diferentes complementações mostram que a conclusão do evangelho de Marcos foi sempre um problema. Mas a exposição do evangelho de Marcos termina em 16:8.
2]- Cf. BITTENCOURT, 1969:34
3]- Cf. GNILKA,
1986, p.106. Em 4 Esdras 7:89-91, vemos que as tribulações e perigos
devido ao cumprimento da lei são compensados com a glória sete vezes
maior no mundo celeste.
SOLI DEO GLORIA
RUBEN DARIO DAZA B.
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Para lêr em português sobre outros temas:
1.- Jesus tem o controle de toda a Natureza. Link: http://teologiaycienciarubedaza.blogspot.com/2011/03/jesus-senhor-de-toda-natureza.html
2.- Jesus vem a nosso encontro. Link: http://teologiaycienciarubedaza.blogspot.com/2011/04/jesus-vem-nosso-encontro.html
3.- Pascoa, permaneçam em mim. Link: http://teologiaycienciarubedaza.blogspot.com/2011/04/pascoa-permanecam-em-mim_03.html
4.- As Palmas das Mãos de Deus. Link: http://teologiaycienciarubedaza.blogspot.com/2011/06/as-palmas-das-maos-de-deus.html
5.- A teologia de Libertação e o Protestantismo Brasileiro. Link: http://teologiaycienciarubedaza.blogspot.com/2011/06/teologia-da-libertacao-e-o.html
6.- Aquele com quem se pode contar. Link: http://teologiaycienciarubedaza.blogspot.com/2011/07/aquele-com-quem-se-pode-contar.html
7.- A Vitória Definitiva do Crente Sobre a Morte: A Vida. Link: http://teologiaycienciarubedaza.blogspot.com/2011/07/vitoria-definitiva-do-crente-sobre.html
8.- Ensina-os a contar os nossos dias.Link: http://teologiaycienciarubedaza.blogspot.com/2011/08/ensina-nos-contar-os-nossos-dias.html
9.- Teologia e a Libertação na teologia latino-americana e suas contribuições na América Latina. Link: http://teologiaycienciarubedaza.blogspot.com/2011/08/teologia-e-libertacao-na-teologia.html
10.- Reflexão Pastoral: Provérbios 13,22. Link: http://teologiaycienciarubedaza.blogspot.com/2011/09/reflexao-pastoral-proverbios-1322.html
11.- A Volta de Cristo: Uma Reflexão Cristã abordando J. Moltmann. link: http://teologiaycienciarubedaza.blogspot.com/2011/09/o-que-penso-sobre-volta-de-cristo.html
12.- Deus é Luz: Link: http://teologiaycienciarubedaza.blogspot.com/2011/09/deus-e-luz.html
13.- ISAÍAS : 26, 1- 6: Um Estudo Exegético. Link: http://teologiaycienciarubedaza.blogspot.com/2011/09/i-texto-1.html
14.- ECUMENISMO: Uma reflexão Teológica. Link: http://teologiaycienciarubedaza.blogspot.com/2011/10/ecumenismo-uma-reflexao-teologica.html
15.- PAUL TILLICH: Dinâmica da Fé. Link: http://teologiaycienciarubedaza.blogspot.com/2011/10/paul-tillich-dinamica-da-fe.html
16.- ISAÍAS : 63, 1- 6: Um Estudo Exegético. Link: http://teologiaycienciarubedaza.blogspot.com/2011/10/isaias-63-1-6-um-estudo-exegetico.html
17.- A CURA COMO AÇÃO SALVÍFICA DE DEUS : Teologia Bíblica do AT. e NT. O
tema da Cura consta de tres escritos inéditos sobre a minha monografia
no Seminário de 4º ano. Acesse o seguinte link: http://teologiaycienciarubedaza.blogspot.com/2011/10/cura-como-acao-salvifica-de-deus.html
18.- O Estudo do ponto de vista teológico sobre a cura como ação salvífica de Deus. Link: http://teologiaycienciarubedaza.blogspot.com/2011/10/teologia-sistematica-cura-fisica-como.html
19.- A leitura da Bíblia diante dos desafios da realidade atual. Link: http://teologiaycienciarubedaza.blogspot.com/2011/09/julio-paulo-tavares-zabatiero-diretor.html
20.-Dissertação Exegética de 1 Coríntios Cap. 13. Acesse o seguinte link: http://teologiaycienciarubedaza.blogspot.com.br/2011/11/dissertacao-exegetica-de-i-corintios.html
21.- Exegese do Antigo Testamento Salmos 113. Link: http://teologiaycienciarubedaza.blogspot.mx/2012/08/exegesedo-antigo-testamento-salmo-113.html
19.- A leitura da Bíblia diante dos desafios da realidade atual. Link: http://teologiaycienciarubedaza.blogspot.com/2011/09/julio-paulo-tavares-zabatiero-diretor.html
20.-Dissertação Exegética de 1 Coríntios Cap. 13. Acesse o seguinte link: http://teologiaycienciarubedaza.blogspot.com.br/2011/11/dissertacao-exegetica-de-i-corintios.html
21.- Exegese do Antigo Testamento Salmos 113. Link: http://teologiaycienciarubedaza.blogspot.mx/2012/08/exegesedo-antigo-testamento-salmo-113.html
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